Bem que a copa podia ser a chaga desse país, assim era só
ela nunca ter sido trazida para cá que tudo seria resolvido... mas esse país é
assassinado por uma política arcaica, baseada no café com leite, e no
coronelismo do século passado, dominada por um clientelismo que não acaba
nunca. Acha que tudo isso é só de tempos de outrora? então observe bem o STF,
observe bem a posse de Joaquim Barbosa, e veja quem estava presente à aquela
cerimônia. É só pegar um jornal e ver que sempre há noticias de mortes por falta
de leitos, ou pessoas em macas nos corredores; Crianças cada dia menos
interessadas em estudar, curvando-se ao crime cada dia mais cedo, sujeitas à
escolas sucateadas, com professores mal remunerados. Assassinatos e roubos não
preciso nem comentar a intensidade com que acontecem. É claro, isso tudo é
culpa dos partidos, dos políticos corruptos, da má administração pública . E
nós? nós estamos ilesos nisso tudo?? Presos à esse mundo sanguinário,
construímos nossas cúpulas de cristal, para proteger-nos dessa violência que
acaba sendo intensificada pelas emissoras sensacionalistas. Construímos nossas
cúpulas de cristal, fechando-nos ao individualismo sem fim, como se não
fizéssemos parte de um coletivo maior. É claro, precisamos ter nossas
individualidades, mas não precisamos deixar de olhar para o sujeito que está
ali jogado na rua. Ah que bom se fosse apenas isso, mas não. Construímos uma
democracia, que hoje fica mais como um rótulo de democracia, e não enxergamos
isso. Não sabemos ao menos o que é democracia ou as suas diretrizes,
consideramos como democracia, aquele conceito de que o Estado não interfere na
minha vida particular, e não o outro conceito onde as pessoas interferem na
vida do Estado. Pessoas desinteressadas, que nunca leram um livro inteiro, ou
ao menos sabem a história do seu país... A internet está aí, e o que procuramos
nela? apenas o trivial. Ficamos escravos da preguiça, ficamos escravos do ato
de ser clientes, somos como crianças que precisam ser alimentadas, assim
exigimos que os governos nos sirva, as pessoas nos sirva, e quando elas nos
deixam de servir, ficamos muito revoltados. Aí saímos as ruas apenas quando
mexem nos nossos bolsos, quando a economia não vai bem, quando a inflação já
esta alta. E quando as pessoas são despejadas para darem lugar aos estádios da
copa? saímos as ruas? não... eles são vândalos... Mas o pior de tudo, é quando
mendigos invadem um shopping porque também querem o direito de serem
consumidores. E assim tudo vai num ciclo um tanto quanto interminável. É preciso
pararmos , fecharmos os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto.
"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". E um mundo
onde as aparências são o mais importante, um mundo onde o preconceito habita a
mente das pessoas, um mundo onde não há interesse pelo saber, um mundo onde ser
honesto é uma exceção, um mundo onde estamos cegos, realmente cegos, o problema
torna muito maior do que a Copa do mundo ou as Olimpíadas, ou a corrupção... O
problema passa a ser um aglomerado de coisas, onde os animais que somos nós
passamos a fazer parte. " Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
... e assim as coisas vão caminhando, entre pessoas que apontam o dedo e não
percebem que há mais três apontados para ela.
Raphael F. Lopez
Raphael F. Lopez
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