domingo, 13 de julho de 2014

Tempo

Quando as mãos enrubescem pelo tempo
A prataria velha permanece suja sobre a pia
Um prato sobre o outro a se enlaçar com a água suja
O que penso sobre a vida não importa mais
Nada importa mais
Porque os sonhos são de outrora
A pele aveludada das mulheres cálidas é de outrora
Porque o trabalho não me apetece mais
Porque a vida é de outrora.
O mundo pesou sobre a coluna velha
Dos todos os fardos que hei de carregar, o que mais pesa
É o nada, é uma criança a morrer de fome.
Meu corpo traiu as promessas da meninice
Minha alma corrompeu-se.
Não se corrompeu apenas por corromper-se
Mas eu exigi-me a corrupção.
Quando a vida pediu-me pressa
Resolvi-me esperar
Quando a vida pediu-me calma
Decidi-me acelerar.
A dicotomia me assassina, apavora-me.
Mas apenas ela resta.
Os homens nada são, as poesias nada são, muito menos as histórias
Como em uma filosofia kantiana, precedo-me a observar.
Mas estou cansado delas,
Não há nada
Nunca houve nada.
E em todos os tempos verbais, e mesmo que me curve sobre a gramática
O vazio continuará dominando-me a alma, o corpo, os dentes.
Os dentes caem, a morte vem, e a alma habita
O coração de quem ama, e sente saudades.
Para tudo resta o fim
E para mim apagou-se, como fogueira velha.
Despeço-me com o mesmo fulgor que me entregaram a vida
Temo, e temo mais ainda a escuridão.


Raphael F. Lopez

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