sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O vendedor de plásticos




"A vida é o paradigma das palavras."
Alessandro Manzoni











Manuel, rapaz fajuto, gordo, velho para a sua idade
vivia preocupado e comprometido com o trabalho
a cada canto da casa já cheirava a insalubridade
e o dinheiro não dava nem para a escola do pirralho.

Hora aqui, hora acolá, vendia o dia todo, todo dia
trabalhava na loja de plásticos da esquina
as coisas vão melhorar, rezava ele na abadia
e como o dinheiro não dava fazia um bico na oficina.

Cansado do trabalho, chegava em sua casa na Capela do socorro
Beijava esposa, filho, neto e papagaio
Separava a poupança, e as contas, e reclamava como um beatorro
Em casa berrava, e mandava; no trabalho não passava de sabujo, lacaio.

TV de plasma, carro na garagem e até roupa coca-cola
Gastava o que tinha, e o que não tinha para seguir as inovações da novela
Depois do jornal, abria a cerveja, cigarro e ia assistir seus jogos de bola
Na cama, o trabalho preocupava, e se rendia aos sonhos da vida bela.

Nos finais de semana, vivia no bar do senhô João
A cada grito de truco, um gole de cachaça esquentava a garganta presa
Apoiava no muro da direita, encostava na esquerda, e virava um falastrão
Depois da cachaça, prometia mundos a esposinha que já chamava de princesa.

Em uma noite de sábado, reclamou para o senhô João a falta de dinheiro
Senhô João encheu dois copos de cachaça: Bebe que é pra cura a dor.
Colocou a mão no ombro de manuel e disse como um conselheiro
Nunca se deixe ser escravo do trabalho, esse vício de fétido odor.

Três dias depois, Manuel sentiu forte dor no peito
era seu coração que já pedia socorro e compaixão
Havia sofrido um infarto do miocárdio, e agora jazia em seu leito
Manuel diria; que coração de plástico esse que levou-me ao caixão.

Lá estava Manuel, vendedor da loja de plásticos da esquina
Gritava truco, bebia e fumava no bar do senhô João
quando o dinheiro não dava, fazia bico na oficina.
E agora? agora Manuel, gordo e fajuto, jazia à sete palmos do chão.

As lágrimas escorriam dos olhos da esposinha
Já se lembrando de quando seu Manuel a chamava de princesa
Embriagada por aquelas lembranças de outrora, pedia aos céus agora viuvinha
E se tudo fosse um sonho? Eu teria Manuel esperando como surpresa.

E essa é a vida, uma constante odisseia por longínquos horizontes
Presos vamos a um espectro de lembranças, buscando a realidade enfim
Fecham-se as cortinas da vida para o morto Manuel, que buscou a fonte
dessa eterna poesia que já chega ao fim.


Raphael F. Lopez    16/08/2013

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