Meu amigo,
você está ai? Você me ouve? Eu tive um sonho, e gostaria de conta-lo! Foi um
sonho louco... Eu vi, eu enxerguei, eu vivi.
Em algum
momento eu me encontrei sentado à beira de um rio, jogando pedras na água, e
sentindo cada batida de cada pequeno grão de rocha. Quando ouvi subitamente o
meu nome, eram crianças me chamando, mas quem eram aquelas crianças, e aquela
mulher que as acompanhava?
De repente
eu tinha uma família, e lá estava minha esposa, olhando-me com seus olhos
doces, com seu jeito louco e sincero... Eu tinha uma família...
Mas não era
só eu que havia mudado, o mundo havia mudado, os prazeres haviam mudado, as
pessoas haviam mudado. As crianças não trabalhavam, elas apenas brincavam, eram
educadas com escolas que não as ensinavam a serem bons trabalhadores, e sim a
serem sábios e humanos. As pessoas já não corriam tanto, não caminhavam sem
observar a vida que passava ao redor, olhavam o céu, diziam bom dia, e se
emocionavam com o lindo sol que se posicionava no universo. Não havia pobres e
nem ricos, havia pessoas, pessoas sábias. Não havia mendigos a implorar uma
esmola nos semáforos, porque não era mais necessário sofrer para viver. Nos
palácios, os políticos trabalhavam por amar o seu país e seu povo, ninguém
vivia para trabalhar. As igrejas haviam sido fechadas, seus ouros doados aos
pobres e doentes; Deus estava sendo cultuado e amado como deveria, através do
amor ao próximo, do altruísmo e da fraternidade. O desconhecido e as utopias
não eram mais temidos, eram amadas como sinônimo de caminhar, de evoluir. A
ciência já não era mais usada em prol de grandes corporações, mas sim ao
bem-estar do ser humano. Os pássaros cantavam, entoando um lindo sussurro de
amor. As chuvas eram comemoradas, a escuridão era símbolo da harmonia e o amor
era a palavra mais vivida por todos.
Ah que lindo
sonho eu tive!
Eu estava
lá, a bailar aquela linda sinfonia que soava pelas ruas, a viver aquela vida de
alegria e exatidão.
Nas universidades não se pensava em revolução,
se pensava em amar o próximo. Levantava-se cartazes clamando por sabedoria e
união, para que nada derrotasse aquele mundo de quimeras. Sonhar já não era
defeito, e sim virtude. Seja feliz, e viva era o que os médicos receitavam. Nos
outdoors se liam a frase “A vida só merece ser vivida se ela for esgotada em um
só momento”. As mulheres eram amadas não
como um produto e sim como luz; as feministas não clamavam por liberdade para
usar o corpo como querem, e sim por mais sabedoria ao usa-lo. Os pais de
família não tinham como prioridade os lucros nas bolsas de valores, e sim a
união de sua família. Ter boas condições de vida, não era mais motivo para
agradecer, e sim para se lamentar, porque o amor era tão grande, que as pessoas
desejavam estar na pele dos enfermos para não vê-los sofrer e gritar de dor.
Deus não mais recebia a culpa pelas desgraças humanas, e sim os próprios
humanos era a culpa de seus problemas. Os exércitos trocavam os seus fuzis por
equipamentos de salvamento; As cadeias se tornaram as maiores escolas de toda a
civilização, e as escolas, o orgulho de toda nação.
Aqui era
onde a beleza encontrava a historia...
Os idosos
compartilhavam todo seu conhecimento, e deixaram de se lamentar por o tempo ter
passado para eles. As pessoas não imploravam uma vida eterna, mas sim, viviam
com tamanha intensidade que se tornavam a própria eternidade. Os amantes
amavam, amavam a alma de seus amados, e não mais um corpo para possuir. O corpo
já não era sinônimo de beleza, mas sim a sabedoria, era a verdadeira beleza a
se apaixonar; cantigas eram feitas a fim de conquistar uma alma desejada, e
flores eram jogadas da janela. O coração era ouvido pelas pessoas, casais já
não brigavam, e sim conversavam; a fidelidade era virtude e não vergonha. Sexo
era sagrado e não objeto de prazer momentâneo. As árvores eram admiradas como
árvores, e não como futuras mesas de jantar. Os índios ensinavam suas danças e
suas festas às pessoas e não eram mais massacrados pelo desenvolvimento. As
pessoas se abraçavam nas ruas, desejavam felicidades aos seus semelhantes; aniversário
não era mais particular, e sim de todos, porque todos admiravam aqueles que
comemoravam e amavam os anos passantes. As
florestas eram preservadas, para manter nossos companheiros de reino vivos. Não
havia amarguras de sonhos não realizados, não havia sorrisos massacrados. Havia
esperança e união...
Aqui era
onde a beleza encontrava a história!
Mas eu
estava deitado ao lado de minha esposa, observando o céu estrelado, sentindo a
grama, e a brisa das florestas; eu havia abandonado a civilização porque
gostava mais das montanhas do que dos shoppings, porque gostava mais dos rios
do que das piscinas.
Mas algo me incomodava
algo não estava certo, eu sentia que tudo estava desaparecendo, que eu já
estava velho, que já estava cansado. Subitamente lá estava eu, deitado em meu
berço fúnebre, partindo assim como vim. Chorando ao meu lado estava minha
amada, aquela pequena, aquela que conheci quando não procurava, aquela que
segurou em minha mão e ergueu-me quando eu tropeçava, aquela que era a minha
inspiração.
Mas foi
ficando distante, escuro, e cá eu novamente, adormecido sob meus escritos e
meus poemas. Não sei ao certo se foi um sonho, ou se foi uma vida. Mas o que é
a vida senão um sonho? Seja lá o que
for, meu amigo, sei que essa foi uma das mais belas visões que já vi, que já
enxerguei, que já vivi.
Raphael F. Lopez 17/04/2013
adorei seu texto!No fundo e isso que todos nos queremos para nossas vidas.
ResponderExcluirObrigado por ler o blog... com toda certeza é o que queremos sim, e é o que devemos buscar... continue lendo o blog
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